Ainda tenho um certo bloqueio com esse tópico, pois demorei um tempo para reconhecer que era um problema recorrente em meus dias. Antes de começar, quero que pare e se responda, quantas vezes você escondeu ou sentiu vergonha do quanto se esforçou em algo? do quanto realmente estudou para aquela prova? de quantas horas gastou editando aquele vídeo ou post?
Em seu discurso de formatura, em 2022, a cantora e compositora Taylor Swift proferiu “Me parece que há um falso estigma em torno da ânsia em nossa cultura de ‘ambivalência despreocupada’. O que perpetua a ideia de que não é legal ‘querer’. Que as pessoas que não se esforçam são mais chiques do que as que o fazem. Mas, me ouça, nunca tenha vergonha de tentar. A falta de esforço é um mito.”
Nos últimos tempos, a ideia de não correr atrás do que se quer foi completamente normalizada. As pessoas foram levadas a acreditar que esforço constante, a busca, a vontade, não levam a nada. E quem ousar ir de contra essa corrente de falso moralismo, vira motivo de piada. E um exemplo pessoal claro disso é a minha vontade incandescente de criar um canal do youtube, mas eu nunca o faço, pois “imagina se alguém pensar que estou tentando ser famosa? que pesadelo”.
Recentemente, o cantor Timothée Chalamet, em um discurso de vitória, declarou que estava em busca da grandeza e que, apesar de não ser o que costumam falar, ele queria ser um dos grandes. Como deve imaginar, essa fala atraiu críticas massivas. Internautas de todos os lados surgiram para julga-lo como pretensioso. É até engraçado o quão essa palavra virou banal, e usada - erroneamente - em qualquer ocasião (como a Tatiane se aprofunda melhor na news a cultura da vergonha intelectual nos quer burras e dóceis). Não, ele não foi pretensioso ou arrogante, apenas ousou reconhecer o próprio trabalho.
E sinto que isso já nos leva a um ponto importante, que é a demonização por querer ser reconhecido. No artigo ‘eu perdi minhas palavras?’, reitero que “sentir desejo de reconhecimento por conta de alguma ação, pensamento e sentimento não lhe faz um zumbi virtual com o cérebro derretido pelas redes sociais. apenas um ser humano qualquer, com uma configuração padrão”. As vítimas mais populares disso são as garotas que desejam ser influencer, e começam a postar como tal. Perceba o quão linchadas elas são, a um ponto de até desistirem.
E essa cultura do não se esforçar está sendo disseminada até mesmo em um âmbito cultural. Hoje, dizer que ler certos autores desconhecidos ou acabar usando palavras “difíceis” é visto como estranho. Qualquer coisa que saia do básico é mal vista. O próprio uso da palavra ‘pretensiosa’ vai nesse rumo. Qualquer um que tenta ir além, pensar além, fazer além, é taxado como arrogante e sem humildade. E a propagação dessa ideia tem muitas nuances e impactos políticos-sociais, ao se dizer a classe trabalhadora que ela não deve se esforçar e que há vergonha nisso. Mas sobre isso eu vou escrever em outro post.
Não se corrompa a esse pensamento. Tente, tente e tente outra vez após isso. Comece a gravar o daily vlog. Poste aquele story. Compartilhe seu substack no instagram, mesmo que ele não tenha muitos inscritos. Não ache feio tentar. Não se acanhe. Fora do mundo artificial que é a internet, estamos todos tentando.
incrível seu texto!!! a forma como você conectou a fala da loirinha com o caso do Timothée ilustra perfeitamente como punimos quem ousa admitir seus esforços e ambições. essa cultura do "cool" que despreza quem se empenha está silenciosamente sufocando talentos, especialmente de nos mulheres que somos duplamente julgadas quando mostramos ambição por algo. fico muito honrada de ser mencionada por você 🫶
seu post me deu um choque de realidade KKKKKKK. confesso que sempre estive procrastinando para alcançar meus objetivos, ou caso tente, faço às escondidas, com medo de que alguém veja meus esforços. é vergonha, eu sei que é. mas sinto tanto receio em compartilhar minhas coisas e acabar sendo julgada e desistir, que simplesmente deixo de lado ou guardo tudo para mim mesma.