Sinto que esse texto, junto com o ‘crescer é aterrorizante’, e o ‘sobre o ‘para sempre’ sempre acabar’ forma a infeliz trindade de todos que tem medo do tempo. Os três estão interligados, de alguma forma. Pois a nostalgia intensa pelo que já passou leva a um medo de crescer que, consequentemente, resulta no medo da morte.
O tópico ‘morte’ é algo que eu evito pensar pois realmente me apavora. Constantemente questiono se sou tanatofóbica. Recordo-me de uma época tenebrosa, na qual eu não conseguia nem dormir porque tinha medo de morrer durante o sono. O que chega a ser cômico se considerar que eu luto contra pensamentos suicidas há muitos anos (Com isso, eu poderia falar por horas sobre minha crença de que os suicidas são as pessoas que mais amam a vida).
Eu não me permito nem pensar demais sobre o assunto, pois já sinto a fagulha de uma crise de ansiedade começando. Tenho tendências a sempre querer estar no controle, então é extremamente difícil para mim aceitar que não há nada a fazer, e que é o fim inevitável de todos. E sinto que esse temor se alastra ainda mais pelo fato de eu não acreditar, de uma maneira convicta, em nenhuma base religiosa. Para mim, não existe algo no pós vida. Acredito que tudo que temos é isso aqui, e esse pensamento me amedronta até os ossos. É difícil passar pelo processo da perda quando não se há nada em quê se agarrar.
Em uma entrevista, realizada em 2012, a cantora Gal Costa disse que seu maior medo era morrer. Que ela odiava não ver nada, e que tinha medo da morte ser isso, apenas o vazio (Uma pausa para homenagear essa eterna rainha da música brasileira, falecida em 2022. Eu espero que você não tenha visto o ‘nada’ nem por um minuto! Descanse em paz, minha gracinha). O medo que ela expôs é exatamente o mesmo que o meu. Fico imaginando a sensação de não existir e é aterrorizante. Para onde minhas memórias vão? Todas as minhas ideias, pensamentos, medos, desejos?
Tudo que constitui minha alma irá sumir. E as coisas vão seguir sem mim. Os anos irão passar, as pessoas vão continuar vivendo, o mundo não vai parar. E, em algum ponto da existência, não haverá mais nenhum vestígio que eu sequer estive aqui. Eu gostaria de fugir desse destino a qualquer custo.
“Eu vou ter tanta saudade de mim quando morrer” - Clarice Lispector
Os meus conflitos com essa tema se estendem além da minha morte, mas também a de pessoas que conheço. Minha mente simplesmente não consegue processar que alguém que conheci, vi, ouvi a voz, simplesmente parou de existir. Eu e a pessoa estávamos vivas juntas, durante o mesmo período de tempo, como assim ela só sumiu? Olho para todas as pessoas que me importo e temo o dia em que isso acontecerá.
E não sei nem como começar a explicar como me sinto sobre a morte de um artista que acompanho. A primeira vez que passei por isso foi com a Marília Mendonça em 2021, a cantora que tinha sido a minha favorita durante toda infância. Eu me lembro que implorei para ser mentira, pra ela ser encontrada com vida nos destroços. Foi como se tivesse perdido alguém próximo, e acho que até hoje não processei direito.
É tão difícil se sentir dessa forma, pois todo o resto do mundo está te taxando de dramática ou fanática, por apenas lamentar uma perda. E isso se sucedeu com todos que perdi depois isso, a Gal, Rita Lee, Matthew Perry, Liam Payne… Como é que eu explico que eu estou de luto por alguém que nunca me conheceu, mas que me salvou tantas vezes? Eu não sou nem capaz de imaginar o que vai ser de mim se algo acontecer com a Taylor.
“Agora, que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer. Você só me ensinou a te querer, e te querendo eu vou tentando te encontrar.” - Caetano Veloso
Não tenho uma conclusão para esse artigo, pois não tenho uma conclusão para esse tópico na minha mente. Sinto que esse texto precisa acabar de repente e sem despedida, assim como ocorre a morte.
me vi em cada linha, principalmente nesse medo constante do tempo e da finitude. é um alívio estranho saber que não tô sozinha nesse pavor silencioso. obrigada por escrever isso. de verdade.
como você se sente entrando na minha cabeça e escrevendo tudo que eu sinto?